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Compilação de artigos sobre a crise nos EUA

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Mensagem por Vi0linha Ter Set 23, 2008 11:01 am

Compilei aqui alguns artigos sobre a crise nos EUA para quem não tem acesso à versão impressa da Folha de S. Paulo:
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Mensagem por Vi0linha Ter Set 23, 2008 11:02 am

ARTIGO

Dinheiro por lixo

Se o plano do governo Bush for aprovado como está, teremos muito a lamentar


PAUL KRUGMAN
DO "NEW YORK TIMES"


ALGUNS CÉTICOS estão classificando o plano de US$ 700 bilhões que o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, propôs para resgatar o sistema financeiros americano de "dinheiro por lixo". Outros chamam o pacote de "Lei de Autorização do Uso de Força Financeira", parodiando a "Lei de Autorização de Uso da Força Militar", o infame projeto que deu luz verde ao governo Bush para a invasão do Iraque. As duas ironias são justas. Todos concordam em que é preciso fazer alguma coisa grande. Mas Paulson está exigindo para ele mesmo e para seu sucessor poderes extraordinários quanto a usar o dinheiro dos contribuintes em apoio a um plano que, no meu entender, não faz sentido. Há quem diga que deveríamos simplesmente confiar em Paulson, porque ele é um cara inteligente que sabe o que está fazendo. Mas isso é apenas parcialmente verdade: ele é mesmo um cara inteligente, mas o que, exatamente, na experiência dos últimos 18 meses -período em que Paulson repetidamente declarou que a crise financeira estava "sob controle" e ofereceu uma série de soluções frustradas- justifica a crença de que ele sabe o que está fazendo? Paulson está agindo de improviso, como todos nós. Assim, vamos tentar refletir sobre o assunto por nossa conta. Tenho uma visão em quatro passos sobre a crise financeira. 1. O estouro da bolha da habitação levou a uma alta nas inadimplências e na execução de hipotecas, o que por sua vez resultou em queda nos preços dos títulos lastreados por hipotecas -ativos cujo valor deriva em última análise dos pagamentos de hipotecas. 2. Esses prejuízos financeiros deixaram muitas instituições financeiras com falta de capital -uma escassez de ativos em comparação com suas dívidas. O problema é especialmente severo porque todo mundo assumiu dívidas pesadas durante os anos da bolha. 3. Porque as instituições financeiras apresentam capital insuficiente com relação à sua dívida, elas não vêm podendo ou querendo oferecer o crédito de que a economia necessita. 4. As instituições financeiras vêm tentando pagar suas dívidas por meio da venda de ativos, incluindo aqueles títulos lastreados por hipotecas, mas isso vem forçando uma queda nos preços dos ativos e agrava ainda mais sua posição financeira. O círculo vicioso que temos é conhecido como "paradoxo da desalavancagem". O plano de Paulson dispõe que o governo adquira até US$ 700 bilhões em ativos problemáticos, principalmente títulos lastreados por hipotecas. Como isso resolveria a crise? Bem, a medida poderia -vejam bem, poderia- deter o círculo vicioso da desalavancagem, o passo quatro de minha descrição sumária. Mas nem isso fica claro: os preços de muitos ativos, não só aqueles que o Tesouro propõe adquirir, estão sob pressão. E mesmo que o círculo vicioso seja limitado, o sistema financeiro ainda continuará paralisado por capital insuficiente. Ou melhor, ficará paralisado por capitalização insuficiente a não ser que o governo federal pague um ágio absurdo pelos ativos que adquirir -o que daria às companhias financeiras, seus acionistas e dirigentes- um imenso lucro extraordinário à custa do contribuinte. Eu cheguei a dizer que o plano não me satisfaz? A lógica da crise parece requerer intervenção não no passo 4, mas no passo 2: o sistema financeiro necessita de mais capital. E, se o governo vai fornecer capital a companhias financeiras, deveria receber aquilo a que as pessoas que fornecem capital têm direito: uma participação acionária, de modo que todos os ganhos, caso o plano de resgate funcione, não beneficiem aqueles que causaram a confusão, para começar. Foi isso que aconteceu na crise das instituições de poupança e empréstimo, no final dos anos 1990: as autoridades federais tomaram o controle dos bancos problemáticos, não apenas de seus ativos. Também foi isso o que aconteceu com a Fannie Mae e a Freddie Mac. (E, aliás, aquele resgate cumpriu a missão pretendida. As taxas de juros hipotecários caíram acentuadamente desde que o governo federal tomou o controle das instituições.) Mas Paulson insiste em que deseja um plano "limpo". "Limpo", no contexto, quer dizer um resgate financiado pelo contribuinte, mas sem precondições -os resgatados não precisarão retribuir. Por que isso seria vantagem? Acrescentemos a isso que Paulson também exige autoridade ditatorial e imunidade contra revisões "por qualquer tribunal judicial ou agência administrativa", e eis uma proposta inaceitável. Estou ciente de que o Congresso está sob imensa pressão para aprovar o plano de Paulson nos próximos dias, com no máximo algumas poucas modificações que o tornem menos ruim. Basicamente, depois de passar um ano e meio dizendo a todo mundo que as coisas estavam sob controle, o governo Bush agora afirma que o céu está caindo e que, para salvar o mundo, temos de fazer exatamente o que eles estão dizendo, e já! Mas eu aconselharia o Congresso a parar um minuto, respirar fundo e tentar redefinir seriamente a estrutura do plano, para que ele trate dos problemas reais. O Legislativo não deveria se curvar à pressão -caso o plano seja aprovado em forma semelhante à atual, teremos todos muito a lamentar, em um futuro não muito distante.
Tradução de PAULO MIGLIACCI

Fonte: Folha de S. Paulo - 23/09/2008 - Caderno Dinheiro
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Mensagem por Vi0linha Ter Set 23, 2008 11:03 am

Os mestres de um universo cada vez menor

por Sérgio Dávila, de Washington

Cada crise econômica tem o Sherman McCoy que merece.

O fictício corretor de ações de Wall Street, criação inesquecível de Tom Wolfe no romance "A Fogueira das Vaidades", de 1987, foi o primeiro "mestre do universo", como o autor se refere à elite financeira e econômica mundial. Como ele, há todo um time de "mestres do universo" de que o público só toma conhecimento nas crises. São os figurões que enchem os bolsos enquanto suas empresas fazem água.

A crise da "contabilidade criativa" da virada do milênio, por exemplo, que eu vivi in loco em Nova York, trouxe à luz nomes como o de Kenneth Lay, o "Kenny Boy", como o chamava o amigo George W. Bush, que um dia foi considerado para o cargo de secretário do Tesouro, Jeffrey Skilling, com seu sobrenome em gerúndio com o verbo "skill", habilidade, destreza, e Andrew Fastow, o quase-Fausto.

Eram todos os mandantes da Enron, a gigante de energia que faliu e deixou milhares na miséria. Kenny Boy saiu com um pacote de US$ 42,4 milhões. Era o Sherman McCoy da vez.

Menos de dez anos depois, a quebradeira dos bancos e instituições que já custou 10% do PIB aos cofres norte-americanos começa a elencar seus Shermans. O meu preferido, por enquanto, é o CEO do Lehman Brothers.

Funcionário desde 1969 do que era o quarto maior banco de investimentos dos EUA, o agressivo e calvo Richard Fuld era conhecido por seus subordinados como "The Gorilla".

Quando a fragilidade de sua instituição veio a público, Fuld, de 62 anos, disse que "quebraria as pernas" do executivo que ele flagrasse jogando com as ações do banco na Bolsa. Não falou que antes disso tinha comprado uma ilha no exclusivo litoral de Palm Beach, reduto dos endinheirados norte-americanos na Flórida. Chama-se Jupiter Island e custou US$ 14 milhões.

Nos 14 anos em que ocupou a posição principal da instituição, embolsou US$ 500 milhões, segundo a "Forbes". Mora na luxuosa Greenwich, em Connecticut, Estado vizinho de NovaYork, e tem um apartamento funcional na Park Avenue de Manhattan, coisa de quatro quartos, quatro banheiros e US$ 21 milhões. Mesmo com a concordata de seu banco, deve sair com US$ 65 milhões.

Quem mais?

Stan O'Neal, do Merrill Lynch, levou US$ 160 milhões -o banco de investimentos, o terceiro maior dos EUA, foi vendido antes que quebrasse. Jimmy Cayne, que comandou o Bear Stearns por 15 anos, levou US$ 61,3 milhões em venda de ações.

Quando o Fed americano começava a coordenar a operação de compra de seu banco pelo JP Morgan por US$ 30 billhões, em março, Cayne jogava golfe em Detroit.

Além do pacote, ganhou um "plano-aposentadoria" de US$ 30 milhões. Ele e sua mulher compraram dois apartamentos grudados no Plaza, o luxuoso hotel de Nova York que transformou parte de seu prédio em condomínio de ricaços. Os imóveis valem US$ 28,2 milhões. Cayne tem ainda um palacete na mesma Greenwich de Richard "The Gorilla" Fuld.

Depois de darem seus testemunhos ao Congresso, o que deve acontecer nos próximos dias e como fizeram antes deles Kenny Boy, Fastow e Skilling, imagino os dois sentados lado a lado em uma de suas casas, observando crescer o gramado impecavelmente verde e impecavelmente aparado, um dizendo para o outro: "Vida dura essa nossa..."

sdavila@folhasp.com.br

Fonte: Folha de S. Paulo, Revista da Folha, 21/09/2008
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Mensagem por Vi0linha Ter Set 23, 2008 11:05 am

ARTIGO

Uma longa sombra

O fato de nada de tão ruim quanto a Depressão ter acontecido até hoje é notável


NIALL FERGUSON
DO "FINANCIAL TIMES"


ALAN GREENSPAN , o mestre dos momentos oportunos, na semana passada descreveu a atual crise financeira como "algo que provavelmente acontece apenas uma vez por século". A Grande Depressão começou menos de 80 anos atrás, mas o fato é que estamos em um século diferente. Não importa que essa seja ou não a pior crise que o mundo enfrentará daqui até 2099, o fato de que nada tão ruim quanto a Depressão tenha acontecido entre os anos 1930 e o presente é em si notável. Foi Hyman Minsky, um dos primeiros economistas de sua geração a pensar seriamente sobre crises financeiras, que observou em 1982 que o mais significativo evento econômico desde a Segunda Guerra Mundial (1939-45) "é algo que não aconteceu: não houve uma depressão profunda e duradoura". Será que é isso está começando agora? Se for o caso, não admira que os luminares de Wall Street tenham sido apanhados tão desprevenidos. Afinal, a carreira média de um presidente-executivo de banco dura pouco mais de 25 anos. E entre 1983 e 2007, não aconteceu coisa alguma que pudesse preparar os atuais mestres do universo para o que estamos vivendo. Nem de longe. Um boletim publicado pelo fundo de hedge Bridgewater definiu a situação de maneira crua: "Com as taxas de juros a caminho do zero, os intermediários financeiros quebrados e a desalavancagem a meio curso, parece que estamos a caminho de um novo domínio no qual as ferramentas monetárias tradicionais não funcionam". O domínio em questão provavelmente terá "uma dinâmica ao modo dos anos 30". Os acontecimentos deste mês certamente tiveram um ar de anos 1930. A nacionalização das instituições de crédito hipotecário, a quebra do Lehman Brothers, a tomada de controle do Merrill Lynch pelo Bank of America e o resgate do governo à AIG, a maior seguradora do país: qualquer um desses episódios, isolado, teria constituído uma grande crise financeira nos anos 1980 e 1990. Na semana passada, quando perguntaram a Ken Lewis, presidente do Bank of America, quantos dos 8.500 bancos americanos ele acreditava que sobreviveriam à compressão de crédito, ele respondeu: "cerca de metade". A falência de mais de 4.000 bancos certamente representaria uma Depressão 2.0 (ainda que, a bem da verdade, o número total de bancos estaduais e nacionais a desaparecer nos EUA entre 1928 e 1933 tenha chegado a 11 mil). Exceto pelo fato de que não estamos vivendo uma depressão clara, pelo menos não ainda. Para começar, o governo federal é imensamente maior do que era quando a Grande Depressão começou. E tem injetado dinheiro na economia de uma maneira que causaria horror ao presidente Herbert Hoover e receberia aplausos de John Maynard Keynes. O déficit do Orçamento federal ficará pouco abaixo de US$ 490 bilhões no ano fiscal de 2009. Exatamente: meio trilhão de dólares em novas dívidas. Do começo ao fim, enquanto isso, o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) vem tentando fazer exatamente o oposto do que fez durante a Depressão: está combatendo a compressão de crédito por meio de cortes de juros e injeções dirigidas de liquidez no sistema, e estendeu aos bancos de investimento linhas de crédito que no passado estavam reservadas aos bancos comerciais, enquanto relaxa suas regras quanto a cauções. Além de tudo, Hank Paulson, secretário do Tesouro, na sexta-feira anunciou a criação de uma instituição que usaria dinheiro dos contribuintes para adquirir ativos lastreados por títulos hipotecários problemáticos das instituições financeiras. De acordo com Paulson, o plano poderia envolver até US$ 700 bilhões em dispêndios governamentais adicionais. Outros, como Ken Rogoff, economista da Universidade Harvard, estimaram o custo como mais próximo de US$ 1 trilhão. Essa última medida deve mais aos anos 1980 do que aos anos 1930. O modelo é a Resolution Trust Corporation, criada em 1989 para adquirir maus empréstimos de instituições insolventes de poupança e empréstimos, as instituições locais de crédito hipotecários que foram o cerne da última grande crise do mercado imobiliário dos EUA. O custo final da crise do setor de poupança e empréstimos, que durou de 1986 a 1995, foi de US$ 153 bilhões, ou cerca de 3% do PIB de 1989. Os contribuintes arcaram com US$ 124 bilhões do prejuízo. Dado o volume e a complexidade muito maiores dos ativos problemáticos atuais, e a dificuldade muito maior em determinar seu valor, a conta da nova RTC deve ser muito mais alta, talvez atingindo 7% do PIB. Taxas de juros baixas e investimento de dinheiro público gerado por elevação do déficit orçamentário foram as técnicas recomendadas por Keynes e outros estudiosos dos anos 1930 como soluções para o problema da Depressão. Essas técnicas sofreram usos e abusos imensos nos anos 1960 e 1970, quando não houve depressão, e o resultado final foi uma inflação desastrosa. Será que essas técnicas funcionarão agora? Até o momento, conseguiram promover o que seria possível chamar de uma Grande Repressão. Na verdade reprimiram, mas não curaram, a depressão. A questão é determinar, como sugeririam certas teorias psicológicas, se repressão é uma estratégia sustentável ou se, em dado ponto, o paciente terá de deixar de negar os fatos, se curvar à realidade e admitir a verdade terrível. As autoridades terão sucesso em manter a depressão reprimida? Entre as razões pelas quais podem fracassar, a política talvez tenha posição preponderante. E consola pouco pensar que o mundo não precisará passar de novo por isso antes do próximo século.

O historiador britânico NIALL FERGUSON é professor em Harvard. Seu novo livro, "The Ascent of Money: A Financial History of the World" [A Ascensão do Dinheiro: História Financeira do Mundo], sai pela Penguin no fim de outubro

Tradução de PAULO MIGLIACCI

fonte: Folha de S. Paulo - 23/09/2008 - caderno Dinheiro
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Mensagem por Vi0linha Ter Set 23, 2008 11:07 am

ARTIGO

O sistema financeiro paralelo se desfaz

NOURIEL ROUBINI
ESPECIAL PARA O "FINANCIAL TIMES'

A semana que passou determinou o fim do sistema bancário paralelo criado nos últimos 20 anos. Por causa de uma regulação maior dos bancos, a maior parte da intermediação financeira nas últimas duas décadas cresceu dentro de um sistema paralelo cujos membros são corretoras-operadores do mercado, "hedge funds", grupos de "private equity" (fundos privados de participação em empresas), títulos complexos e obscuros, fundos mútuos e empresas de créditos hipotecários não-bancárias.
A maioria dos integrantes desse sistema faz operações de crédito de curto prazo, é muito mais alavancada que os bancos e investe em instrumentos financeiros de pouca liquidez.
Como os bancos, carregam o risco de sofrerem uma corrida contra suas obrigações. Mas, ao contrário dos bancos, protegidos desse risco por seguros e apoio emergencial de bancos centrais, a maioria dos integrantes do sistema paralelo não tinha acesso a essas proteções.
Uma corrida geral a esses bancos paralelos começou quando a desalavancagem pós-estouro da bolha dos ativos gerou incertezas sobre quais instituições estavam solventes. O primeiro estágio foi o colapso de todo o sistema de SIVs (fundos de instrumentos financeiros complexos e obscuros), quando os investidores perceberam a sua toxicidade.
O próximo passo foi a corrida aos grandes corretores-operadores do mercado americano: primeiro o Bear Stearns perdeu sua liquidez em dias. O Federal Reserve (BC dos EUA) então estendeu seu apoio como fonte de crédito emergencial para corretores-operadores sistemicamente importantes. Mas mesmo isso não impediu uma corrida aos outros corretores-operadores dada a preocupação com a solvência: foi a vez de o Lehman Brothers quebrar. O Merrill Lynch enfrentaria o mesmo destino se não tivesse sido vendido. A pressão se deslocou para o Morgan Stanley e o Goldman Sachs.
O terceiro estágio foi o colapso de outras instituições alavancadas sem liquidez e provavelmente insolventes graças à sua irresponsável concessão de crédito: Fannie Mae e Freddie Mac, AIG e mais de 300 instituições de crédito hipotecário.
O quarto estágio foi o pânico nos fundos mútuos de investimento. Eles competiam agressivamente por ativos e, para dar retornos maiores e atrair investidores, alguns aplicaram em instrumentos sem liquidez. Quando esses investimentos estouraram, o pânico tomou conta dos investidores, causando enorme corrida contra esses fundos. Isso seria uma catástrofe. Então, noutra mudança radical, os EUA estenderam as garantias de depósitos a eles.
O próximo passo será uma corrida contra milhares de "hedge funds" altamente alavancados. Após breve período de bloqueio, seus investidores podem resgatar os investimentos trimestralmente. Assim, uma corrida contra esses fundos na forma de uma corrida bancária é bastante provável.
Centenas de fundos menores e mais novos que assumiram riscos excessivos com alta alavancagem e são mal-administrados podem quebrar. Uma enorme mexida na inflada indústria de "hedge funds" é provável nos próximos dois anos.
Mesmo as firmas de "private equity" e suas compras irresponsáveis e altamente alavancadas de empresas não serão poupadas. A bolha de "private equity" gerou compras alavancadas de empresas ("LBO" na sigla em inglês) que jamais deveriam ter ocorrido. A corrida contra essas LBOs é lenta, mas só atrasam a crise de refinanciamento e tornará ainda pior as quebras que se seguirão. Mesmo grandes LBOs, como GMAC e Chrysler, estão agora em risco.
Estamos observando uma corrida acelerada contra o sistema bancário paralelo que está causando seu fim. Se o apoio emergencial e a garantia de depósitos forem estendidos a mais integrantes do sistema, essas instituições terão de ser regulamentadas como os bancos para evitar risco moral. Claro, esta severa crise financeira também tem custo aos bancos tradicionais: centenas estão insolventes e terão de fechar.
O lado econômico real da crise financeira será uma severa recessão nos EUA. O contágio financeiro, o euro forte, as importações americanas em queda, a explosão das bolhas habitacionais européias, os altos preços do petróleo e um duro Banco Central Europeu causarão recessão na zona do euro, no Reino Unido e na maioria das economias avançadas.
Instituições financeiras européias correm o risco de perdas agudas por causa dos títulos tóxicos vendidos a elas. Assim, a crise financeira do século também envolverá as instituições financeiras européias.

Nouriel Roubini é presidente da Roubini Global Economics e professor de economia na Universidade de Nova York.

Fonte: Folha de S. Paulo - 22/09/2008 - Caderno Dinheiro
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Mensagem por N_e_t_o Ter Set 23, 2008 11:01 pm

"O buraco na maior economia do mundo"

fonte : http://www.bbc.co.uk/blogs/portuguese/editores/

Texto muito interessante, baseado na avaliação de um historiador francês feita há alguns anos sobre a decadência dos EUA num todo. Merece reflexão.

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http://www.nckn.com.br

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Mensagem por Vi0linha Qua Set 24, 2008 12:36 pm

Desculpem, mas este vai em inglês mesmo.

Where is the Credit Crunch?
Alex Tabarrok

Back in February I pointed out that despite all the talk of a credit crunch commercial and industrial loans were at an all-time high and increasing. At the time, Paul Krugman and others responded that this was just temporary as firms drew on previously existing lines of credit. Well here we are in September and bank credit continues to look very robust. As Robert Higgs points out consumer loans are up, commercial and industrial loans are up, even real estate loans are up. Overall, total bank credit is up with just a slight sign of leveling off in recent weeks. So where is the credit crunch?

A credit crunch does exist in the sector of the market based on short-term, asset backed securities. In addition, interbank lending is unusually risky. But in light of what I have just said the "credit crunch" takes on a new meaning and potential new solutions are suggested. The first question I have is this. Investment banks were selling these securities and using the money to lend to whom? I do not know the answer. But let's suppose that the money being raised in these markets was being lent to productive businesses. If so, then any solution should focus on feeding those businesses that are starved for credit.

I look at the situation as follows. Banks are bridges between savers and investors. Some of these bridges have collapsed. But altogether too much attention is being placed on fixing the collapsed bridges. Instead we should be thinking about how to route more savings across the bridges that have not collapsed. Government lending may be one way of doing this but why lend to prop up the broken bridges? Instead, why not lend directly to the investors who are in need of funds? After all, if these investors exist and have valuable projects that's where the money is! Let the broken bridges collapse, taking the shoddy builders with them. Instead focus on the finding and rescuing the victims of any credit crunch, the investors who need funds.

Now here is a hypothesis. It may be that there just aren't that many firms in need of funds. First, one reason that bank lending is up may be that firms with good projects have already turned to the substitute bridge of ordinary bank loans. Second, I wonder how much real lending was actually being generated by asset backed securities. Could it not be that most of the funds generated were used to buy more asset backed securities? (The growth in these securities is certainly suggestive of that possibility). If that is the case then it explains why the real economy has been remarkably resilient to the "credit crunch."

Now perhaps I am wrong about all this. Bernanke has access to a lot more data than I do and he seems very worried. I'd still like to know, however, which credit-worthy firms are credit starved. And I'd suggest that we ought to think more about alternative bridges that will connect credit-starved firms with savers.

September 24, 2008 at 07:37 AM

Fonte: Marginal Revolutions
http://www.marginalrevolution.com/marginalrevolution/
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Mensagem por Vi0linha Qua Out 15, 2008 4:21 pm

ANTONIO DELFIM NETTO

Pânico inútil

É CADA VEZ mais evidente que Paulson e Bernanke cometeram um erro catastrófico na sua avaliação das conseqüências da quebra do Lehman Brothers.
Supondo que a violação do princípio do "grande demais para falir" interromperia a cadeia de desconfiança que se instalara nos mercados, eles puseram em marcha um processo que está longe de poderem controlar. Sua propagação está cobrando um preço gigantesco, que será pago pela economia real de todos os países do mundo. Graças aos abusos, à fértil imaginação que dispensa a moralidade e aos equívocos da política monetária (que durante longos anos não teve a humildade de conformar-se com a teoria), o sistema financeiro, que deveria servir à economia real (a do PIB e do emprego), ameaça destruí-la.
Os agentes financeiros estavam desconfiados com a crise do "subprime". E os cidadãos estavam assustados com a queda dos preços dos imóveis (que representam 1/3 de sua "riqueza"). Nesse quadro de profunda ansiedade, a quebra do Lehman promovida pela autoridade foi o epicentro de um terremoto financeiro mundial, que, na escala logarítmica Richter, foi superior a 9, ou seja, altamente destrutivo.
A história vai julgar duramente a competência de Bernanke, um excelente economista e historiador da crise de 1929, e a argúcia de Paulson, um profissional treinado que presidiu durante anos a Goldman Sachs. Vai ser muito difícil entender como a "boa" teoria somada à "boa" prática terminou em tal desastre.
Por outro lado, é fácil entender o comportamento aleatório (não irracional, como dizem alguns economistas) dos aplicadores. Ele lembra os estouros das boiadas quando assustadas por um estalo.
O mesmo acontece com os violentos terremotos: não sabendo onde encontrar abrigo, corre-se em qualquer direção. Trata-se pura e simplesmente de um estado de pânico. Todos querem sair e descobrem que a ampla porta de entrada (a ilusão vendida pela "ciência" dos bancos de investimento, que haviam descoberto como medir o risco e oferecer retorno garantido) é agora uma minúscula abertura de saída, onde vão amargar o custo de terem acreditado no milagre do máximo lucro com o mínimo de risco.
Não existe abrigo seguro. Todos vão pagar um preço pela irresponsabilidade de poucos, e uns poucos, de sangue frio e financeiramente líquidos, vão ficar ainda mais ricos.
Se você não tem nem sangue-frio nem liqüidez, fique quieto e espere.
Um dia a confiança voltará, como voltou depois das dezenas de crises do passado. Não fuja de casa para morrer na rua...

Fonte: Folha de S. Paulo, página 2.
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Mensagem por Mauricio Katayama Qua Out 15, 2008 5:53 pm

Obrigado por esse tópico Léa!! Me economizou um bocado de tempo com esse clipping, concentrando artigos em um lugar.
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Mensagem por Vi0linha Qui Out 16, 2008 12:13 am

Maurício,

de nada, também achei melhor juntar tudo aqui!
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Mensagem por Vi0linha Seg Out 20, 2008 11:23 am

Buy American. I Am.

By WARREN E. BUFFETT
Published: October 16, 2008


THE financial world is a mess, both in the United States and abroad. Its problems, moreover, have been leaking into the general economy, and the leaks are now turning into a gusher. In the near term, unemployment will rise, business activity will falter and headlines will continue to be scary.

So ... I’ve been buying American stocks. This is my personal account I’m talking about, in which I previously owned nothing but United States government bonds. (This description leaves aside my Berkshire Hathaway holdings, which are all committed to philanthropy.) If prices keep looking attractive, my non-Berkshire net worth will soon be 100 percent in United States equities.

Why?

A simple rule dictates my buying: Be fearful when others are greedy, and be greedy when others are fearful. And most certainly, fear is now widespread, gripping even seasoned investors. To be sure, investors are right to be wary of highly leveraged entities or businesses in weak competitive positions. But fears regarding the long-term prosperity of the nation’s many sound companies make no sense. These businesses will indeed suffer earnings hiccups, as they always have. But most major companies will be setting new profit records 5, 10 and 20 years from now.

Let me be clear on one point: I can’t predict the short-term movements of the stock market. I haven’t the faintest idea as to whether stocks will be higher or lower a month — or a year — from now. What is likely, however, is that the market will move higher, perhaps substantially so, well before either sentiment or the economy turns up. So if you wait for the robins, spring will be over.

A little history here: During the Depression, the Dow hit its low, 41, on July 8, 1932. Economic conditions, though, kept deteriorating until Franklin D. Roosevelt took office in March 1933. By that time, the market had already advanced 30 percent. Or think back to the early days of World War II, when things were going badly for the United States in Europe and the Pacific. The market hit bottom in April 1942, well before Allied fortunes turned. Again, in the early 1980s, the time to buy stocks was when inflation raged and the economy was in the tank. In short, bad news is an investor’s best friend. It lets you buy a slice of America’s future at a marked-down price.

Over the long term, the stock market news will be good. In the 20th century, the United States endured two world wars and other traumatic and expensive military conflicts; the Depression; a dozen or so recessions and financial panics; oil shocks; a flu epidemic; and the resignation of a disgraced president. Yet the Dow rose from 66 to 11,497.

You might think it would have been impossible for an investor to lose money during a century marked by such an extraordinary gain. But some investors did. The hapless ones bought stocks only when they felt comfort in doing so and then proceeded to sell when the headlines made them queasy.

Today people who hold cash equivalents feel comfortable. They shouldn’t. They have opted for a terrible long-term asset, one that pays virtually nothing and is certain to depreciate in value. Indeed, the policies that government will follow in its efforts to alleviate the current crisis will probably prove inflationary and therefore accelerate declines in the real value of cash accounts.

Equities will almost certainly outperform cash over the next decade, probably by a substantial degree. Those investors who cling now to cash are betting they can efficiently time their move away from it later. In waiting for the comfort of good news, they are ignoring Wayne Gretzky’s advice: “I skate to where the puck is going to be, not to where it has been.”

I don’t like to opine on the stock market, and again I emphasize that I have no idea what the market will do in the short term. Nevertheless, I’ll follow the lead of a restaurant that opened in an empty bank building and then advertised: “Put your mouth where your money was.” Today my money and my mouth both say equities.

Warren E. Buffett is the chief executive of Berkshire Hathaway, a diversified holding company.

Bom... se o homem mandou e ele entende, quem sou eu para discordar?!!? LOL2
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