Risco USA - Por Miriam Leitão

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A cada nova etapa de tramitação do pacote, a cada nova versão do texto, o buraco fiscal aumenta. Ontem, foi incluída na versão do Senado uma garantia de que o FDIC pode pegar empréstimos ilimitados com o Tesouro para cumprir sua obrigação de cobrir os depósitos. Mesmo assim, é para os títulos do Tesouro que correm os investidores em momentos de pânico. Isso é o mais difícil de explicar.

A lógica do mercado financeiro globalizado é uma das coisas mais esquisitas do mundo. Nos momentos mais agudos dessa crise, ativos caíram no mundo inteiro. Caíram espantosamente, por exemplo, para ficar num exemplo nosso, os preços das ações da Vale e da Petrobras. A Vale exporta para mercados menos atingidos pela crise, já que quase nada vende para os Estados Unidos; a Petrobras está num momento de elevação das suas reservas de petróleo. Do ponto de vista concreto, e em outro contexto, deveriam estar subindo. Mas caíram. E caíram também as bolsas do Brasil, da China, da Rússia, da Coréia, e por aí afora.

Esses investidores em fuga foram para onde se sentem seguros. E onde se sentem seguros? Nos títulos do Tesouro americano!

Olha a maluquice: os Estados Unidos são o centro da crise, o país que mais foi e que mais será atingido. Lá é que os bancos quebram, que a recessão se instala, que os imóveis despencam com mais intensidade. É também nos EUA que o déficit aumenta de forma espantosa. Um orçamento já desequilibrado receberá uma conta de mais US$ 700 bilhões, à qual estão sendo penduradas outras contas, que vão ampliando o rombo. Essa idéia do Senado de aumentar a garantia do FDIC, por exemplo, pode virar uma bomba fiscal em caso de aprofundamento da crise bancária.

Hoje, o fundo garantidor dos depósitos dos correntistas dos bancos tem US$ 45 bilhões, mas com eles garante depósitos no valor total de US$ 4,5 trilhões. Se a solução é criar essa verdadeira conta de movimento entre o FDIC e o Tesouro, o risco fiscal aumenta consideravelmente. A conta de movimento até 1986 no Brasil permitia que o Banco do Brasil sacasse no Banco Central quanto ele quisesse. A proposta do Senado é que o FDIC possa ter direito de pegar empréstimos ilimitados no Tesouro.

Um Tesouro com tantos riscos fiscais não pode ser o refúgio seguro em tempos de incerteza, mas tem sido escolhido para isso por investidores que chegam a aceitar juros negativos, ou seja, pagam para que esse endividado e encrencado Tesouro fique com o dinheiro deles por um tempo. E como o capital amedrontado vai para lá, o dólar, moeda do país mais encrencado no momento, é a que sobe. E se o cenário se complicar, subirá mais ainda.

A votação do projeto na Câmara ainda está cercada de incertezas. Primeiro, porque eles derrotaram o primeiro projeto; segundo, por$há interpretações de que um projeto que aumenta despesas não deveria ter começado pelo Senado; terceiro, porque as condições que levaram a Câmara a derrotar o primeiro pacote ainda estão lá.

A única diferença é que o susto foi tão grande, após a derrota da primeira versão, que alguns deputados estavam ontem dando sinais de mudança de posição. Eleitores, que antes pressionavam para não votar a favor do projeto, passaram a protestar com os deputados pelas perdas das aplicações em bolsa na terça-feira. Deputados, que não acreditavam no cenário catastrofista na eventualidade da derrota do projeto, passaram a acreditar. Então, há mais chance de aprovação na Câmara, ainda que não haja certeza de que será uma aprovação pacífica, sem protestos e sem novas alterações no projeto redigido no Senado. Ontem, durante todo o dia, o projeto foi mudando, mesmo tendo sigo negociado desde a véspera.

No melhor cenário, que é o da aprovação do projeto nas duas casas e sua execução imediata, ainda assim há estragos que não podem mais ser corrigidos. A economia americana está em recessão e com um déficit fiscal crescente, uma mistura que é perigosa. A recessão reduz arrecadação, o que aumentará ainda mais o déficit; o volume dos recursos necessários para resgatar o mercado pode ser ainda maior.

Ontem, a indústria automobilística anunciou números péssimos. Ford, Toyota, Honda anunciaram quedas de 32%, 35% e 24% nas vendas em setembro, respectivamente. A GM teve uma queda de apenas 16% por causa de um programa de incentivo à compra dos carros pelos empregados. Outros setores têm reportado quedas fortes de vendas, mesmo com algumas boas notícias, como a queda da inflação. Menos vendas, menos arrecadação num contexto de explosão de gastos no plano de socorro aos bancos. Como os Estados Unidos são os emissores da moeda de referência internacional, as incertezas produzem aumento da procura por títulos do Tesouro e fortalecimento da moeda.

Há interpretações encantando o governo no sentido de que o Brasil se beneficiaria da crise. O Brasil não tem nada a ganhar com esta crise. Tudo o que o país pode fazer, se o governo tiver bom senso, é adotar medidas que reduzam o impacto da crise no Brasil. Mas o sentido de urgência só aparece quando os mercados despencam após algum agravamento da crise.



Fonte: www.miriamleitao.com.br

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Um texto que da uma visão e explicação bem interessante sobre o atual momento que vivemos, é meio longo mas vale a pena a leitura.

Taí um negócio que eu nunca entendi...

Os investidores ficam com medo da recessão. Aí tiram da renda variável pra colocar em um investimento onde se sentem seguros. E esse investimento são títulos do tesouro estadunidense. Mas pera aí, não é o mesmo tesouro que comprou 700M em títulos podres??

uheahuaeuh...

Tive que rir...Realmente não da para entender.

No mais, até que o artigo pensa mais ou menos como eu penso. Gostei.

Pois, eu diria que é comico e trágico...
Uma coisa sem sentido, buscar proteção no olho do furacão da crise... coisas que só mercado faz por você...

Gente eu discordo de vocês eu sou baba ovo dos americanos.Eles passaram pela crise de 29 sem da calote não vai ser esse percauso que vai acabar com eles.

Não sei não, agora sou eu que estou ficando MUITO assustado com essa crise....

Dêem uma lida no site RGE Monitor, em inglês, que trás uns artigos do Roubini:

http://www.rgemonitor.com/roubini-monitor/253853/financial_and_corporate_system_is_in_cardiac_arrest_the_risk_of_the_mother_of_all_bank_runs

Gustavo_bl escreveu:Não sei não, agora sou eu que estou ficando MUITO assustado com essa crise....

Dêem uma lida no site RGE Monitor, em inglês, que trás uns artigos do Roubini:

[url=http://www.rgemonitor.com/roubini-monitor/253853/financial_and_corporate_system_is_in_cardiac_arrest_the_risk_of_the_mother_of_all_bank_runs

http://www.rgemonitor.com/roubini-monitor/253853/financial_and_corporate_system_is_in_cardiac_arrest_the_risk_of_the_mother_of_all_bank_runs[/quote[/url]]
Gustavo, você me fez descobrir o tradutor do google . Estou lendo os artigos em inglês que voce está postando, pelo google. Apesar da pouca qualidade da tradução, estou entendendo muito bem o que está acontecendo e não estou gostando nem um pouco. No mês que vem , vou gastar o dinheiro da "bolsa" no cabeleireiro. Acho que vou fazer melhor proveito

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Um Tesouro com tantos riscos fiscais não pode ser o refúgio seguro em tempos de incerteza, mas tem sido escolhido para isso por investidores que chegam a aceitar juros negativos, ou seja, pagam para que esse endividado e encrencado Tesouro fique com o dinheiro deles por um tempo.

Cara isso é o ápice do amor a pátria americano , permeado pelo medo.
Como podem ver o dolar ta valorizando , como pode isso?
não estou entendendo , pois é uma falácia esta valorização

Os investidores ficam com medo da recessão. Aí tiram da renda variável pra colocar em um investimento onde se sentem seguros. E esse investimento são títulos do tesouro estadunidense. Mas pera aí, não é o mesmo tesouro que comprou 700M em títulos podres??

HaHaHa impressionante mesmo! 700Bi

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No desespero, os americanos não sabem mais o que fazem. Enquanto estamos preocupados, eles estão no olho do furacão. Sabe o que parece? Parece que atiraram uma pedra em um vespeiro e as vespas saem voando a esmo, esporando todo mundo sem saber porque, e sem ter noção de onde ir.

Gente, vamos esclarecer algumas coisas:

- para o americano médio está crise ainda não chegou, os jornais locais não a noticiam, só o pessoal que é informado ou que mora nos grandes centros [SF, LA, NY e Chicago] tem noção do que está acontecendo, pois o crédito ao consumidor ainda não secou por lá, eles ainda tem crédito em abundância;

- todos os países tem reservas em dólar, o dólar é a única moeda aceita mundialmente, é normal que em caso de crise as pessoas corram para uma moeda que é segura;

- o dólar está subindo por vários fatores: aqui no Brasil pela saída do capital que ainda estava por aqui, muitos fundos haviam vendido sua posições em renda variável, mas deixado o dinheiro na renda fixa daqui que paga mais juros, agora com a crise lá fora - em alguns lugares houve corrida aos bancos - tem de tirar o dinheiro daqui para cobrir rombos lá fora. O euro está se desvalorizando frente ao dólar pois a economia de lá também foi afetada pela crise americana, enquanto o sistema financeiro se desregulamentou há uma década, na Europa sempre foi desregulamentado e há várias histórias de quebradeira por lá por conta de operações pouco ortodoxas.

- o tesouro americano sempre honrou seus títulos, ao contrário do nosso, que tem histórico de calote, normal que as pessoas busquem esta segurança, é como colocar dinheiro sob o colchão . Outra coisa: os EUA são extremamente ricos em ouro e na hora da crise mais grave, isto faz muita diferença.

wikipedia escreveu:The United States Bullion Depository holds about 4,603 tons (4,176 metric tonnes) of gold bullion (147.399 million ounces[1]). It is second in the United States only to the Federal Reserve Bank of New York's underground vault in Manhattan, which holds about 5,000 metric tons of gold in trust for many foreign nations, central banks and official international organizations.

para o americano médio está crise ainda não chegou, os jornais locais não a noticiam, só o pessoal que é informado ou que mora nos grandes centros [SF, LA, NY e Chicago] tem noção do que está acontecendo, pois o crédito ao consumidor ainda não secou por lá, eles ainda tem crédito em abundância;

Tenho pouco conhecimento dos EUA , mas acho difícil a noticia não ter espalhado , aqui mesmo no brasil a notícia é bastante divulgada . De fato a grande maioria pode ainda não ter sido afetada
Quando chegar por vez a notícia vc acha que a situação deve piorar ?

Flávio, deve piorar porque quando a população se tocar que o crédito está mais difícil, vão consumir menos. O consumismo doido dos estadunidenses impulsiona bastante as empresas.

Se bem que quando o povão se tocar, as bolsas já terão precificado essa redução no consumo.